16.6.05


...

Strength

Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass,
of glory in the flower,
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;

William Wordsworth

Eu Sei, Mas Não Devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina Colasanti in "Eu sei, mas não devia" - Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1996)

Naomi sexy Posted by Hello

Fashion & Films

Ontem fui pela primeira vez ao Fashion Rio - - maior evento de moda da cidade, lá no MAM. Fui assistir ao desfile da TNG. Adorei a ferveção da galera da moda nos corredores - via-se de tudo: gente descolada, gente cafona, gente famosa, cachorras com calça da Gang, bicões pedindo ingresso pra desfile, modelos lindíssimas e outras não tanto...uma babel de estilos, alguns muuuito duvidosos e outros muito interessantes.

O desfile da TNG, que contou com Naomi Campbell como a "estrela", foi simples e básico. A impressão que deu, é que o cachê da Naomi foi alto demais e não sobrou grana pra maiores produções. Na passarela, apenas a logomarca da grife e o som do DJ Zé Pedro, que apesar de bom na seleção de músicas (flashbacks) , estava alto demais a ponto de incomodar. Ouvi várias reclamações e nós saímos "surdas" dali. Também reparei que a Naomi foi a única que sorriu durante o desfile - as outras modelos - principalmente as mulheres - estavam cabisbaixas e com expressão de tristeza, o que pra mim, tira um pouco o "charme" do conjunto....mas aí a Betty (Lago, que entende tuuudo de moda) me disse que era assim mesmo, que exceção é modelo sorrindo durante desfile, que o objetivo é chamar atenção apenas pra roupa.... ok então. 15 minutos depois it was all over. Gostei de ter ido, o próximo é sábado, desfile da Lenny...

Depois do MAM, fomos jantar no restaurante novo da Graça Tanaka - uma delícia, na Pacheco Leão mesmo, ao lado do Miss Tanaka. A decoração é toda kitch, as paredes são colagens de figuras de santos e de flores, balagandãs espalhados por todo lado e um balcão de boteco. Queria até fazer a minha festa de aniversário lá, mas não abrem na segunda (saaaaco).

Em casa, habitual insônia, aproveitei pra assistir Riding Giants e o início de Redentor...uma noite que só terminou por volta das 4:30 da madrugada. Vou postar amanhã - depois de acabar de ver Redentor - uma resenha sobre cada um. Adianto que Riding Giants é o máaaaaaaaaaaaaximo e me deixou completamente ligada - não deu pra pegar no sono!

As fotos também coloco mais tarde, não dá pra fazer upload do trabalho, the fucking firewall não me deixa instalar o Hello aqui.

Ah, adorei isso (nada a ver com tema, mas...)

"Be yourself. Especially, do not feign affection. Neither be cynical about love; for in the face of all aridity and disenchantment, it is perennial as the grass.Take kindly the counsel of the years, gracefully surrendering the things of youth. Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune. But do not distress yourself with imagings. Many fears are born of fatigue and loneliness; Beyond a wholesome discipline, be gentle with yourself." (trecho de Desiderata, encontrado na Old Saint Paul's Church em 1692).