
Trecho de "Beslan, de palavra sem signifcado a sinônimo de ignomínia" de Adam Nicolson, do Daily Telegraph. Publicado no O Globo, na íntegra, 04/09/2004.
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Estou tão chocada com o que aconteceu na Ossétia do Norte, que não tenho como me calar, apesar de saber que frente as tragédias, qualquer que seja a proporção, não passamos de insignificantes, que nada podemos fazer a não ser assistir às notícias impávidos, sentir piedade, ou no máximo fazer um protesto aqui ou ali. A gente se recolhe à nossa insignificância dando graças a Deus que o terror não atinge nossos lares confortáveis. Sabendo que amanhã coisa pior pode acontecer, que é inevitável, mas e aí? Tendo total consciência desse nosso papel de meros espectadores frente as bárbaries cada vez mais frequentes. Tudo que a sociedade construiu como instrumento de defesa: a organização em si, a polícia, a legislação, as forças armadas, são todos impotentes na prevenção e no combate ao terror. O maior trunfo do terror é exatamente essa brecha, e a imprevisibilidade é a arma.
O mundo está é muito louco. As pessoas estão muito loucas. Cada vez mais gente no mundo, mais gente louca, e as loucuras não têm mais limite. Somos um mundo totalmente acometido pela doença da loucura desenfreada, alimentadas pelo etnocentrismo, egoísmo, pela pobreza e pelo fanatismo. Pela ignorância. Como e quando tudo isso vai acabar? Não há perspectivas. O mundo está completamente perdido dentro dessa loucura.
E a nosso pequeno terror particular é a insignificância, é saber que a única coisa que podemos fazer é se recolher dentro dela com muita piedade.
E muito, muito medo.
P.