21.8.08

The Books Are On The Table, P.


Mais uma leva de livros que me aguardam com uma certa urgência (e cobrança), após algumas visitas às livrarias da Travessa, Argumento e Ponte de Tábuas (esta última deliciosamente perto da minha casa). Alguns já li trechos, mas ainda não terminei nenhum; são para ler de uma só vez, uns aos poucos ou às vezes, e outros só para folhear em certas ocasiões...
São eles:

1-Sonetos de Shakespeare, tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Formato brochura. Editora Hedra.

Gostei desse livro porque traz cada soneto em página dupla: à esquerda o soneto no original em inglês, à direita, sua respectiva (e excelente) versão em português. Mas o melhor dessa edição são as notas de rodapé: comentários diversos que ajudam a entender o significado do todo ou de certas palavras soltas, sobretudo àquelas que o tradutor precisou adaptar para o português e que diferem do sentido puro do inglês ou intencionado por W.S., ou por não existir tal palavra em português - - e ainda, para manter a métrica do soneto. Essa métrica, trocando em miúdos, é o mesmo número de sílabas poéticas nos seus 14 versos (que no caso de W.S. possuem 3 quartetos e 1 dístico). Conseguir traduzir Shakespeare com qualidade já é uma tarefa árdua e para pouquíssimos - e aqui, está incrivelmente belo e maestral, um grande trabalho de Péricles Eugenio da Silva Ramos (1919-1992, poeta, ensaísta, crítico literário, professor, tradutor, além de Shakespeare verteu para o português versos de Mallarmé, François Villon, Safo, entre outros). Abaixo, reproduzo do livro um dos meus favoritos e sua respectiva tradução:

Soneto CXVI

Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments; love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O, no, it is an ever-fixed mark,
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his heighth be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come;
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.

Impedimentos não admito para a união
De corações fiéis; amor não é amor
Quando se altera se percebe alteração
Ou cede em ir-se, quando é infiel o outro amador.
Oh! não, ele é um farol imóvel tempo em fora,
Que a tempestade olha e nem sequer trepida;
É a estrela para as naus, cujo poder se ignora,
Malgrado seja a altura conhecida.
O amor não é joguete em mãos do tempo, embora
Face e lábios de rosa a curva foice abata;
Não muda em dias, não termina em uma hora,
Porém até o final das eras se dilata.
Se isso for erro e o meu engano for provado,
Jamais terei escrito e alguém terá amado.

Obs: segundo TW Baldwin, trata-se de uma "soberba expressão de elevado amor". Tucker Brooke sobre o soneto 116: "W.S. usou 110 palavras das mais simples em inglês, e esquemas também simples de rima, para produzir um soneto que tem em si a strangeness of perfection.

2-101 Coisas A Fazer Antes de Morrer, de Richard Horne, tradução de Fernanda Abreu (não é a cantora), formato brochura, Editora Intrínseca.

Esse livro apenas despertou minha curiosidade. Primeiro, porque adoro listas. 101 itens então, eis uma lista longa, tem que render. Segundo, porque o design é bonitinho: cheio de ilustrações bacanas e coloridas. E por último, porque é lúdico: não é só pra ler, é preciso lápis, tesoura, marcador e outras coisinhas mais que usei da última vez, em conjunto, quando estava no C.A. Vários espacinhos para desenhar e até podemos escrever nosso nome na capa! Como fazia no meu caderninho do Snoopy.

E uma lista que inclui ordenar uma vaca; participar de um ménage à trois; ser barrado de um bar; ser preso; e fazer sexo num avião, entre outras 96, realmente não dá pra mim! Sua tosqueira é que o torna imprescindível na minha lista dos livros que tenho que ler antes de morrer.

3- To My Dearest Friends, de Patricia Volk, formato paperback, Editora Vintage (EUA)
A verdade precisa ser dita: comprei esse livro sob efeito etílico adquirido num jantar no Manekineko, restaurante que fica em frente à Argumento. Sempre vou na Argumento depois do Manekineko e esse não foi o primeiro livro que comprei neurologicamente alterada. Estava na seção (excelente) de livros em inglês, e entre os muitos, gostei desse por causa da foto da capa (uma caneca alva e límpida de cappuccino) e uma descrição, na contra-capa, extraída da revista "O." da Oprah Winfrey, exatamente assim: "Deliciously mischevious...This deceptively light book has a lot to say about the complexity of friendship, the use and abuse of secrets, and the restorative power of love." Saltaram aos meus ébrios olhos as palavras "deliciously...mischevious...deceptively...complexity...use and abuse...secrets...love". Hummmm....na hora pensei que estava à frente de um clássico. O que mais poderia esperar de um livro sobre café tão rico em adjetivos e advérbios? No dia seguinte, lendo o resumo na orelha, vi que o livro era sobre a amizade de duas senhoras, Alice e Nanny (isso mesmo, Nanny), que descobre sobre o caso de amor secreto de uma falecida amiga. E que o capuccino da capa é só sugestivo, um truque subliminar para manter o leitor atento. Bom, quero me surpreender.

4- Ethics, de Benedict (ou Baruch) Spinoza, formato paperback, editora Wordsworth Classics of World Literature. Antes de falar sobre o livro, tenho que falar dessa coleção da Wordsworth Classics: ela está quase toda a venda na Travessa, pelo menos na loja do Shopping Leblon, cada volume de 7 a 19 reais. Isso não é um erro de digitação, o preço é baixo mesmo. Ou seja, muito mais barato do que livro nacional e de excelente qualidade. Esse é o primeiro de uma série que vou ter, porque me deu vontade de colecionar. Na página da Travessa dá pra ver os exemplares disponíveis. Bom, esse livro é a essência da filosofia do racionalismo cartesianista de Spinoza, sua obra-prima. É um depoimento sobre matéria, espírito, Deus, a origem do pensamento, o poder do intelecto. Sua ética diz que a razão, pura e simplesmente, é o que sustenta a nossa existência, e para provar seu ponto, desmistifica o universo contudentemente. Já falei dele nesse blog antes, num post anos atrás, assim que o descobri. A terceira parte do livro é a melhor: "On The Origin and Nature of the Affects" e suas 59 proposições, para citar apenas duas:

Proposition 44: Hatred which is altogether overcome by love passes into love, and the love is therefore greater than if hatred had not preceded it.

Proposition 55: When the mind imagines its own weakness it necessarily sorrows.

5-O Que Os Homens Querem e As Mulheres Precisam Saber de Steve Santagati, editora Rocco. Não tenho muito a dizer sobre esse livro a não ser que foi escrito por um modelo muito gato que se auto intitula um pegador e que fala por experiência própria e o tema combina com minha atual pretensão de conhecer melhor o universo erótico masculino e também por causa da primeira frase da orelha ele é descolado divertido bom de cama e tem um sorriso irresistível e se não dá pra ser real pelo menos através da leitura quero descobrir...o que ainda há pra descobrir e ponto.

PS: na contra-capa apenas uma frase: "sabe aquele homem maravilhoso que deixa qualquer mulher de queixo caído? Leia este livro e ele vai ficar de quatro por você..."

Ha ha ha. Espero me divertir. Tomara que o modelo manequim que está lançando seu primeiro cd com músicas de amor em inglês também seja um bom escritor.

a continuar...falarei dos outros livros amanhã.

futuros posts (de 22 a 30 de agosto): sobre bonobos; vida em hipertexto; meu curso no POP - Pólo de Pensamento Contemporâneo; dois sonhos (ou pesadelos); sobre um site bárbaro de pesquisas da BBC; e qualquer outro que der na telha.