31.5.05

Torcida


by Jules - estréia sábado, quinto páreo

Será?


Muitas perspectivas!!! Não sei até onde a estrada vai me levar, mas tô feliz!!!!

30.5.05

"Mas este primeiro silêncio ainda não é o silêncio. Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas".

(Clarice Lispector)

Lembrando...

Chegue como um furacão
Jogue minha vida no chão
E depois me leve...

(A.P. Mangeon)

O Que Vem Por Aí

Psicodrama
Uma festa
sequência em tempo real (duração da festa)
21 personagens - anfitriã + 20 convidados
duração: 2 horas

Sinopse: Mulher sofisticada, aprox. 40 anos, é anfitriã de festa para 20 pessoas no salão de de uma mansão. Todos comparecem, audiência é apresentada a cada um dos presentes, um por um. A anfitriã toma o lugar e a personalidade de cada convidado , um de cada vez, desencadeando sequências cômicas e dramáticas. Os convidados agem como se não soubessem de nada. Dúvida: a ação é real ou a sequência inteira é a imaginação da anfitriã?


Farsa / Documentário
Série de 10 esquetes de 10 min. cada um (independentes, como clipes)
Total aprox. de 1h 40 min

Sinopse: Curso de história da arte para iniciantes. Cada aula, estuda-se um quadro diferente. A interpretação dos alunos leva a ação principal: o momento de criação das obras estudadas. Artistas: Leonardo da Vinci, Modigliani, Picasso, Andy Warhol, Munch, Fernand Léger, Van Gogh, Renoir, Di Cavalcanti e Botero. Cada quadro, uma ação (farsa cômica) com início, meio e fim. Ao final, explicação do momento real de criação das obras em questão com apoio em pesquisas e material audio-visual de registros oficiais.

Idades
Série de TV
Diferenças Sociais/Psicologia/Comportamento
13 episódios de 50 min.
Dos 15 aos 80 anos (15, 18, 20, 25, 30, 35, 40, 45, 50, 55, 60, 70 e 80)

Sinopse: 3 mulheres representando uma mesma idade. Níveis sociais distintos (classe alta, média, baixa). Abordagem das diferenças sociais entre hábitos comuns da idade. Abordagem do comportamento. Abordagem científica (apenas efeito de ilustração). Depoimento de especialistas. Inserção de animação nas transições entre as 3 pessoas.

Estereótipos (Politicamente Incorretos)
Clipes, sem sequência
Duração: aprox. 8 min. cada um
Temas: a empregada doméstica negra, o segurança, o gay, o o judeu pão duro, a evangélica, o maconheiro, a criança mimada, o turista, o adolescente rebelde, o flanelinha, o pedinte, o porteiro nordestino, o emigrante na cidade grande, a mulher devassa, a mãe-que-faz, o artista frustrado.

27.5.05


Ghosts

Imaginary Friends

When I was little, about 6, I started to make people up.
I would invent imaginary friends and mold them to perfection.
Since I lived in a huge house with many rooms, my mind created a building where divorced mothers lived with their kids. Each room was a different apartment. I remember the names and the faces I created for all of them. And each had a different family history.
Then one fine day I realized how boring they were - - these perfect little ghosts that would attend to all my needs, anytime, anywhere. So I started to fight with each and every one.
But they wouldn't respond to me, and I had to let them go.
They all disappeared, one by one, by the time I was 9.

- - - -

Psychologists say it's perfectly normal for kids age between 3 and 12 to make up imaginary friends. Almost everyone I know had their or theirs at some point. Most of the time they fill an empty space where we can't fit real people, for some reason or another.

And then there's my parallel with a keyword: "perfection": it proves how we have a natural tendency to mold people the way we want - probably as early as we become social beings. We keep creating imaginary people, but only now they are real. We project our wantings, our desires and our notion of the perfect company (friend or lover) in that person, as if we have an inherent code of acceptance (and rejection).

The funny thing is, just as a kid and the boring ghosts: we rapidly lose the enchantment for a specific person that attends to all of our needs, desires and wantings. The perfect person with no flaws is a pain in the ass! It's as predictable as knowing what your imaginary friend will say to you when you talk. Take submissive people, for instance - they suffer more because they strive to be the perfection that they can't be (nobody can), disappointing first and foremost themselves by trying to act down or differently than what they really are. Most perceive the too submissive as uninteresting people, with no uniqueness, no soul.

I can also point out the other kind, the person who is so strict in their own set of selfish rules of acceptance and rejection, that nobody can ever fit to them - - they perceive a small flaw in the other and that's enough to discard.

- She's not what I expected, so I will make her disappear.

- She is too perfect, I am bored, so I will make her disappear.

That's why most relationships are condemned from the start. We all need to grow up...even though this is so part of our nature.

(Rambling again, em inglês...adoro treinar meu inglês aqui.)

Rio

Resolvi trocar o final de semana em Araras pela hípica, tá tendo o campeonato estadual.

Saudades sem fim da B. Não a vejo há 3 anos.

Quero fazer uma surpresa pra ela, aparecer de repente...reencontrar.

Fui! Missão cumprida aqui, tudo pronto pra segunda-feira. Saindo pra almoçar (fome negraaaa!)

Alone in the Office, Half Past Three

I like the loneliness of the office in days like these. I like to wait for everyone to go home so I can come in and be alone. I actually wait outside for the last person to get out, so I can come in only after making sure nobody's in the premises...it's been like that since I first started working here, 6 years ago. I have to deal with so many people and so much loudness around on a daily basis, that this became kind of a blessing - being able to experience calmness, where normally there's chaos; the phone will not ring, the fax will not scream, the coffee will not be served, the lights will not be turned on, the door will not open. The only light on me now is the computer screen's, right on my face. I can hardly read a thing, but I can't care less. I'm not going to read anything, anyway. Today I'm shut, I'm in my hiding place.

26.5.05

Irresistível!


Luca...pedindo alguma coisa muito importante pra ele naquele momento (passear ou comida). Coisa mais amada!!! Dá pra resistir esse olhar de pidão?

Querubim


Bernardo Beloch (filho do Bru)...meu sobrinho querubim.

Hors-concours

Pinot Noir

Wino Forever (Tattoo do Johnny Depp após término com Winona Ryder)

Tava adiando, adiando, adiando...mas não teve jeito.

Sem nada na cozinha ou na despensa, lá fui eu fazer um programão no meu feriado e me meti dentro de um supermercado pra fazer a compra do mês de junho todo (e assim não ter que passar perto de mercado pelo menos por mais 30 dias).

Vi vinhos ótimos com preços excelentes e não me contive - levei vários e improvisei uma adega embaixo da pia da cozinha. Levei o Terrazas Malbec, Cabernet e o Finca Flichman Cabernet e Chardonnay por menos de 30 reais cada -- são vinhos de categoria "popular" na Argentina e com preços muito injustos aqui no Brasil. Espero que seja a baixa do dólar ou uma baixa dos impostos de importação - e que os preços continuem caíndo! De qualquer maneira, fiz o meu estoque e tô feliz por isso...

Vinho me traz a lembrança das melhores cenas do filme Sideways (tem filmes que conseguem me ganhar com apenas uma frase bem dita) - veja como Maya, personagem de Virginia Madsen descreve a sua paixão por vinhos ao Miles (Paul Giamatti):

"Wow, this is really starting to open up, what do you think? I started to appreciate the life of wine, that it's a living thing, that it connects you more to life. I like to think about what was going on the year the grapes were growing. I like to think about how the sun was shining that summer and what the weather was like. I think about all those people who tended and picked the grapes. And if it's an old wine, how many of them must be dead by now. I love how wine continues to evolve, how if I open a bottle the wine will taste different than if I had uncorked it on any other day, or at any other moment. A bottle of wine is like life itself - it grows up, evolves and gains complexity. Then it tastes so fucking good."

SMS

Daniel era um amigo de colégio, o mais CDF e o mais inteligente, mas também o mais tímido, um loirinho de cabelo-capacete com cara de russo e olhos castanhos puxados. O que ele mais gostava de fazer era passar a hora do recreio na biblioteca, sozinho, lendo.

25 anos depois.

Daniel me avista num restaurante do Leblon. Chamo-o para sentar. Falamos sobre a biblioteca do recreio, os livros empoeirados e misteriosos, amigos do passado que não fazem mais parte do nosso presente, como não fazíamos um ao outro minutos antes, escritos em hebraico com potencial para futura tatuagem, a superação da timidez, como você não mudou nada, tá com a mesma cara de criança, aquele mesmo olhar espaçado, aquele jeito de folha caída que voa, que dança, conforme a vontade do vento, e o vento ainda não parou quieto, a ventania te levou e te trouxe até aqui, pra esse restaurante, no Leblon, onde te reencontrei, e de longe te vi e te reparei e te reconheci, e quero sim, vamos sim, até amanhã, me dá seu telefone e te dou o meu, me escreva uma mensagem de texto sms, um sms que diz tudo, um email marcando um encontro sem contar com a minha presença, um oi no msn, grita o meu nome, me mande um fax, um sinal de fumaça, e me diz o que é e o que não é, porque o que não é eu sei e já saquei, então use uma das maneiras infinitas de contato porque o que restou da nossa intimidade ainda é um resto, um resquício, como aquela água sem gelo que você pediu um dia, e sempre pede, no mesmo restaurante do Leblon, Daniel.

25.5.05


*** Posted by Hello

Experimentos

Acabei de ler no Blue Bus:

"Cliente acelera quando está perto do caixa - A Wharton School pesquisou o comportamento dos consumidores americanos dentro dos supermercados usando tags colocadas nos carrinhos e mapeando os trajetos pelos corredores. Entre outras conclusões, diz que os clientes preferem circular no sentido anti horario e aceleram o ritmo quando se aproximam do caixa. Dica do Adfreak. Saiba mais sobre o estudo, em inglês, aqui:

http://knowledge.wharton.upenn.edu/index.cfm?fa=viewArticle&id=1208

Adoro estudos sobre comportamento.

Na faculdade, fiz vários cursos não-obrigatórios de ciências sociais, os de "behavioral sciences" e "social psychology". Era muito legal porque assistíamos os filmes com as experiências feitas pelos maiores profissionais da área, não era simplesmente uma aula qualquer com um professor falando blablablá. Saía sempre impressionada, intrigada. Me lembro de um experimento específico, o "Stanford Prison Study", do Phil Zimbardo, que é assustador - revela o pior da essência do ser humano. O mesmo estudo que foi lembrado depois que veio à tona o escândalo de maus-tratos dos prisioneiros de Abu Ghraib.

O estudo tá todo aqui: http://www.prisonexp.org/

Além do Zimbardo, recomendo também "The Milgram Experiment", que mostrou que as pessoas são mais suscetíveis à autoridade do que antes se imaginava (logo depois da WWII); o experimento de Asch, sobre conformidade; o de Adorno, também sobre autoridade (traços de personalidade do ser autoritário); e da Kitty Genovese, maravilhoso, sobre "difusão de responsabilidade". Depois vou ver se acho os estudos em algum site e posto os links.

Sem Ana, Blues

(...) Palavras que dizem coisas duras, secas, simples, arrevogáveis. Que Ana me deixou, que não vai voltar nunca, que é inútil tentar encontrá-la, e finalmente, por mais que eu me debata, que isso é para sempre. Para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário, e desapareça sem deixar marcas.

Trecho de "Sem Ana, Blues" de Caio Fernando de Abreu

(obrigada M.M. por me mostrar tanta coisa legal dele...)

Feriado

Só sexta-feira fim de tarde, mas...
Araras com chuva, frio, Luca e amigos.
E principalmente a hora de reciclar as energias...

Star Point

Ontem foi a festa de lançamento da Revista Star Point no Sky Lounge. A revista é ótima, tem um projeto gráfico caprichado. O diferencial é que se trata de uma revista de surfista pra surfista - a galera que assina as matérias vivem e respiram o esporte 24 horas por dia.

(odeio falar 24 horas "por dia" - redundância da redundância - mas escrever só "24 horas" não é esquisito?)

Revista Star Point Posted by Hello

24.5.05

Só na Balança

Perdi 6kg em 2 meses e meio! De 62kg para 56kg. Quero chegar aos 54...
Só na malhação e cortando bebida pela metade (porque ninguém é de ferro!)

Tô feliz com isso!

Ah lover and perfect equal
I meant that you should discover me so by faint
indirections,
And I when I meet you mean to discover you by
the like in you

(Walt Whitman, trecho de 'Among the Multitude')

23.5.05


wash away...

Ramblings

Tô aqui no meio de um monte de trabalho, cada um pra ser resolvido num idioma diferente, e fazendo tudo ao mesmo tempo (me virando).

Pensando nas coisas lógicas como esses trabalhos e como me livrar logo deles, pois hoje é segunda-feira, hoje é mais um início, o dia que pinta novas tarefas e resolvo as últimas pendências da semana que se foi.

E pensando, com certeza com o lado esquerdo (eterna gauche que sou), penso em final, segunda-feira como qualquer dia de nuvem, o tempo sem compaixão, preso em algum lugar onde não alcanço e onde me sinto useless as a penny with a hole-in-it. Rambling thoughts hammering inside of me porque tudo pára, o relógio quebra, mas eu continuo viva.

E estando viva, existo pra qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa.... e isso ecoa. E qualquer coisa é qualquer hora, em qualquer lugar, qualquer pessoa ou ninguém. Qualquer coisa que espera, à espreita, algum sinal de desejo, desejo meu. Desejo de botar o relógio pra funcionar de novo.

(penso na Tabacaria http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.html)

Time Out!!!!

Vascoooooooooooooooo!!!!

VASCO SALVA A HONRA DOS CARIOCAS

Time Derrota São Paulo por 3 a 1 com show de Alex Dias.

(da primeira página do O GLOBO)

Dreams be Dreams

Acabei de ler um artigo sensacional na internet sobre SONHOS. Você vai clicando nas palavras em hipertexto e outros artigos sobre o tema vão surgindo. A autora é indiana e sua visão é filosófica e baseada nas ciências védicas (ainda não sei o que é isso...) . Eis um trecho:

Why do we dream? Various answers have been given to this question. Dreams are nothing but a reflection of our waking experience in a new form. The medical view is that dreams are due to some organic disturbances somewhere in the body, but more particularly in the stomach. Sometimes coming diseases appear in dreams.

According to Sigmund Freud all dreams without any exception are wish-fulfilment. The physical stimulus alone is not responsible for the production of dreams. The dream mechanism is very intricate. The wishes are of an immoral nature. They are revolting to the moral self, which exercises a control on their appearance. Therefore, the wishes appear in disguised forms to evade the moral censor. Very few dreams present the wishes as they really are. Dreams are partial gratification of the wishes. They relieve the mental tension and thus enable us to enjoy repose. They are safety valves to strong impulsions. You will know your animal-self in dream.

O texto está aqui:

http://www.experiencefestival.com/a/Philosophy_of_Dreams/id/10389

Trecho

"...Quero-te para sonho,
Não para te amar.
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar... "

(FP)

Incomunicação

Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.

Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender

(Pablo Neruda)

Drummond

Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

22.5.05


Vera Holtz, Otávio Augusto e Zezeh Barbosa

Bendito Fruto

Ontem assisti "Bendito Fruto", um filme delicioso, imperdível. O roteiro é bom e os atores estão todos ótimos, com destaque para a Lúcia Alves como Telma. Ela tá simplesmente impagável!

O lance do bueiro como ponto de partida da estória é genial...

Recomendadíssimo.

No Espaço Leblon (entre outros) as 18h, 20h, 22h.

Hello

Adorei o Hello! Programa para compartilhar fotos e o único que tem interface com o Blogger.

www.hello.com

Li Esse Texto Hoje

- Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque a vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que ama era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ... ...... ............ ........... ............ ................. ............... ............. ....... ........... ........... ............ ......... ........... ............... ............... ................ ............. sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pta te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

(Para uma Avenca Partindo, Caio Fernando de Abreu)

A Nova Forma de Amor

Recebi um texto ótimo, escrito por um psicanalista, sobre relações afetivas.

O texto termina com o chavão: "A pior solidão é aquela que se sente quando acompanhado."

Existe coisa pior?

Fala da importância de preservar a individualidade. Do amor sem dependência. De crescer com a solidão. E no meio disso tudo, continuar *amando* , pois esta é a nova forma de amor - a união de dois inteiros e não duas metades.

Então tá.

(já conhecia esse texto, li numa revista qualquer).

21.5.05

Cenas de Um Casamento Ótimo!


Celo, eu e Pat
Na festa de aniversário de casamento 20/05

Cenas de Um Casamento Ótimo!


Minha sobrinha Gabi e eu na festa de aniversário de casamento do Marcelo e da Patrícia.

Cenas de Um Casamento

Festa de aniversário de 10 anos de casados do meu irmão.

Me fez pensar no filme "Scenes From a Marriage" (um dos filmes mais sérios que já vi. Bergman 1973)

E na sátira, "Scenes From a Mall" (um dos filmes mais engraçados que já vi, de Paul Mazursky-Woody Allen -1991)

-

Scenes From a Marriage:

Marianne: Sometimes it's like husband and wife are talking on telephones that are out of order.
**
Johan: You need to put a lot of effort into not caring.
**
Marianne: We're pitiful, self-indulgent cowards that can't connect with reality and are ashamed of ourselves.
**
Johan: Affection shouldn't be kept just for vacations.

---
Scenes From a Mall:

Nick (Woody Allen): I don't know how our marriage lasted.
Deborah: Mutual death wish.

20.5.05

Tirando Direto

No, you don't get to be nice. I'm not going to play some stupid game with you where we act like we're friends and you get to walk out that door feeling good about yourself. I'm not a modern woman. If this is over, let's call it over.

(Mercedes Ruehl no filme Pescador de Ilusões)

19.5.05

Auto-Retrato

Separações

Estava pensando sobre separações: gente que namora ou casa e separa, uma vez ou várias vezes, e a bagagem que cada um leva pra si com a vivência desses relacionamentos desfeitos. Será que aprende-se alguma coisa? Acho que ninguém muda (raramente) e a experiência só aperfeiçoa o jeito da pessoa. Seja o jeito bom ou ruim...

Helen: Congratulations, my darling. You're free. You're exactly as you were before you were married.

Jerry: Exactly. All I need is a complete set of young illusions and an innocent expression.

(The Divorce, 1933)

***

18.5.05


Break, Blow, Burn

Break Blow Burn


A escritora que me conquistou com o livro Personas Sexuais está de volta com um manifesto à poesia: Break, Blow, Burn - onde analisa com sua prosa ferina e certeira poemas de Shakespeare à Joni Mitchell, passando por Dickinson, Whitman, Sylvia Plath e outros monstros sagrados.

É uma escritora que pensa e escreve de maneira arrebatadora, o que acaba mostrando facetas inimagináveis de assuntos que são dissecados até a exaustão. Com ela vamos até as profundezas onde talvez nem o próprio autor analisado jamais imaginaria - sempre baseando-se na história da arte, na filosofia, na psicologia Freudiana e na cultura popular. Ler um livro dela é enriquecedor justamente porque ela dá essa visão "panorâmica" a cada assunto abordado.

Ela é considerada louca por muitos e é pouco respeitada no meio acadêmico dos Estados Unidos, onde mora e dá aulas de literatura, por ter coragem de ridicularizar obras sagradas, autores consagrados sem dó nem piedade. E por ser uma feminista gay contra o feminismo...

Pra mim ela é uma louca genial que diz muita coisa certa mas viaaaaaja também (as vezes vai muito longe!) Gosto porque me instiga, e principalmente porque foi ela (com o Personas Sexuais) que despertou a minha curiosidade pra muita leitura nova e conhecimento.

Agora vou encomendar o livro, porque não há previsão, ainda, de publicação no Brasil.

17.5.05

Luca


Best Friend - - ele não chega em casa estressado porque teve um dia difícil no parque; ele me lha nos olhos quando fala comigo; e ele não vai deixar de gostar de mim porque não sou a pessoa que ele gostaria que eu fosse (e vice-versa).
Sou louca pelo meu gorducho...

16.5.05

Where Was I Before The Day That I First Saw You?

Uma das canções MAIS LINDAS que ouvi ultimamente é "The Luckiest" (tem um piano que é algo do outro mundo) e a voz do Ben Folds, ex. Ben Folds Five e agora solo.

"I don't get many things right the first time,
in fact, i am told that a lot
now i know all the wrong times,
the stumbles and falls
brought me here
and where was i before the day
that i first saw your lovely face?
now i see it everyday, and i know..."


http://www.mattsmusicpage.com/nben.htm

15.5.05

Não Quero Mais Sentir

alguém tem Novocaine for the Soul aí, além da música?

9.5.05

A Cegueira do Amor

Desde que se ame, o mais sensato dos homens não vê nenhum objeto tal como é. Exagera para menos as suas próprias vantagens e para mais os menores favores do objeto amado. Os temores e as esperanças transformam-se imediatamente em algo de romanesco. Deixa de atribuir seja o que for ao acaso; perde o sentido das probabilidades; uma coisa imaginada é uma coisa existente que influi na sua felicidade.Um signo aterrador de que se está a perder a cabeça é que, ao pensar em qualquer facto, por minúsculo e difícil de observar que seja, o vejamos branco e o interpretemos em favor do nosso amor; um instante depois, verificamos que na realidade era negro, e mesmo assim ainda o achamos favorável ao nosso amor.É nessa altura que uma alma presa de mortais incertezas sente vivamente a necessidade de um amigo; mas para um amante já não há amigos, como muito bem se sabia nas cortes. Eis a fonte da única espécie de indiscrição que uma mulher é capaz de perdoar.

Stendhal, in "Do Amor"

2.5.05

Um Reencontro



final de semana no sítio... maravilhoso.
chuva fina, frio intenso, lareira, vinhos, livros, conversas...

amor